Rio - São 40 anos de histórias que, pelo visto, vão ficar só nas memórias de clientes. Quem um dia já subiu a Avenida Niemeyer para realizar seus desejos no Motel Vip's, um dos mais conhecidos do Rio, recebe agora uma triste notícia. Este domingo, 23 de junho, é o último dia das atividades no espaço, que fechará as portas amanhã. O motivo? As sucessivas interdições da via pelas equipes da Prefeitura do Rio — devido a obras e a deslizamento durante as chuvas—, impossibilitando o acesso de pessoas ao local.
A informação sobre o fechamento do estabelecimento foi antecipada pelo colunista do Globo, Ancelmo Gois, neste domingo, e confirmada ao DIA pela administradora e uma das donas do Vip´s, Anna Tereza Barros. Segundo ela, houve desrespeito e descaso do poder público. E, de fevereiro para cá, houve queda de 60% na ocupação do motel.
"Meu avô (o empresário Ignácio Loyola) que construiu aquilo tudo há 40 anos. Sou da terceira geração que cuida do motel. E temos 60 funcionários, ou seja, 60 famílias que dependem de mim. Infelizmente, hoje (domingo) será nosso último dia de atividades", contou ela, que conversará com os empregados na terça-feira.
As intervenções na Niemeyer começaram em 2014, e já eram alvo de críticas de empresários responsáveis por motéis na região. Eles reclamam que a prefeitura fechava e abria a via sem comunicar os estabelecimentos, prejudicando o comércio no local.
Mas a gota d'água para tomar a decisão derradeira foi o episódio da última sexta-feira, 20 de junho. "Recebi uma ligação de um cliente dizendo que foi barrado por um guarda municipal, onde tem a barreira do Vidigal. Ele falou que estava impedido o acesso ao Vip´s, e apontou o risco de acesso por carros. Mais uma vez, eu não sabia de nada. Fui para a barreira e, quando cheguei lá, liguei pra prefeitura, sendo que o que me causou mais estranheza é que as pessoas não sabiam (dessa proibição), os policiais da UPP também não sabiam", relatou.
A informação que ela recebeu por guardas que estavam naquele ponto da via é que a perícia (do município) detectou que ali era área de risco. "Mas engraçado que há risco então só para carros, né. Porque a Niemeyer virou área de lazer, com crianças jogando bola, andando de bicicleta...".
Anna Tereza diz que nem mesmo a crise financeira foi capaz de fazer o estabelecimento fechar. "Crise a gente atravessa e uma hora melhora".
Constrangimento
Anna Tereza citou ainda que clientes foram constrangidos diversas vezes, lembrando o que ocorreu na semana do Dia dos Namorados, quando guardas municipais só liberavam o acesso de veículos naquele trecho da Niemeyer se a pessoa os informasse que estava indo ao motel. "Imagina o constrangimento das pessoas em informar aos guardas? Tenho clientes que são conhecidos (famosos)".
Dificuldades
Representante da Associação Brasileira de Motéis no Rio e sócio do Shalimar, que fica na Avenida Niemeyer, Antônio Cerqueira avalia que, desde 2014, o comércio localizado na via vem sofrendo. Segundo ele, essas medidas tomadas pela prefeitura sem pensar em ações alternativas junto com os empresários da região agravou a crise dos motéis.
Cerqueira não pensa em fechar o Shalimar, mas conta que se viu obrigado a reduzir os preços dos quartos. "Já estávamos mantendo os valores de dois anos atrás. E no início de 2019 chegamos a reduzir os preços", disse.