'Não sei como vou fazer para pagar minhas contas no final do mês e já cortei das compras no mercado tudo que é considerado supérfluo, só estou gastando com o essencial. Acho que uns 90% da minha renda estão prejudicados". Essa é a realidade da manicure Jezuita Rangel, de 47 anos, um mês após o decreto estadual que proíbe o funcionamento de salões, barbearias e centros de estética, por conta da pandemia do novo coronavírus.
Antes atendendo cerca de 50 clientes por semana, agora a manicure atende, no máximo, cinco, e a cada 15 dias. "Estou falida. Eu vivo disso a vida inteira, não sei fazer outra coisa. Saio para atender essas poucas pessoas porque preciso, porque não estou saindo sem ser para trabalhar ou ir ao mercado. Quando vou atender, uso máscara, lavo as mãos quando chego na casa das clientes e na minha casa, além de álcool em gel", contou Jezuita.
Essa situação tem sido vivida por vários profissionais do ramo de beleza, que também estão enfrentando dificuldades financeiras e vivendo o drama de não saber como fazer para quitar dívidas, temendo até mesmo pelo pão de cada dia.
Acostumada a ter seu salário semanal, a depiladora Flávia Vianna, de 43 anos, trabalha como autônoma num salão em Niterói e se vê agora dependendo da ajuda da mãe. "Estou sem trabalhar, porque quase ninguém quer outra pessoa na sua casa, tenho muitas clientes idosas e elas estão evitando contato. Então estou vivendo agora basicamente com a ajuda da minha mãe, que é pensionista. Estou com contas atrasadas também", desabafa.
Aguardando auxílio emergencial
Flávia e Jezuita se inscreveram para receber o auxílio emergencial do governo, mas ambas contaram que o cadastro ainda está em análise. O mesmo aconteceu com o cabeleireiro Marcus Freire, de 27 anos. Enquanto o benefício não é aprovado, ele está tentando obter renda com a venda de vouchers com seus serviços no salão de beleza onde trabalha, em Niterói.
"Com uma semana antes de começar oficialmente a quarentena eu já percebi que a barbearia onde eu trabalho poderia fechar. Nesse momento comecei a mandar mensagens para meus clientes dizendo que iria atender a domicílio e graças a Deus tem aparecido clientes. Temo por mim e pela minha família, mas estou tendo todos os cuidados necessários, uso máscara, luva, mantenho meu material higienizado", contou Marcos Vinicius, funcionário de uma barbearia em Nova Iguaçu.
Proprietário de duas barbearias em São Gonçalo, Yago Batista, diz que os serviços 'delivery' são os que garantem que o capital da microempresa não fique parado.
"O momento é delicado para todos microempreendedores, porque muitos não possuem caixa emergencial para esses casos, para segurarmos durante dois meses as contas de aluguel, taxas, luz, etc. É muito difícil porque quando se empreende é a longo prazo. Por conta disso resolvi lançar o barbeiro delivery, no qual eu vou até a casa das pessoas com todas as medidas que ministério da saúde exigiu: luva, mascara, álcool em gel e esterilizando os matérias com álcool 70", disse.