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Demorou, governador

Witzel manda polícia evitar operações durante ações humanitárias em comunidades

Distribuição de botijões de gás e de cestas básicas da Cufa, nas comunidades de Acari e Vigário Geral
Distribuição de botijões de gás e de cestas básicas da Cufa, nas comunidades de Acari e Vigário Geral -

O governador Wilson Witzel (PSC) determinou que as polícias Civil e Militar evitem fazer operações em favelas nos momentos que estiverem acontecendo ações sociais. A decisão foi tomada, na última sexta-feira, numa reunião por videoconferência com a deputada estadual Mônica Francisco (Psol), os secretários da PM e da Polícia Civil, representantes da Anistia Internacional do Brasil e de grupos sociais.

Na semana passada, incursões policiais interromperam pelo menos duas doações de cestas básicas, no Morro da Providência, na Zona Portuária, e na Cidade de Deus, na Zona Oeste. Os confrontos resultaram em duas mortes.

Na reunião, Witzel pediu que as polícias ampliem o diálogo com lideranças comunitárias para evitar que as operações sejam feitas nestes momentos de doações.

"Acho que podemos realizar essa integração para criar maior comunicação e evitar que, no momento de uma necessidade de operação, haja pessoas prestando serviços humanitários nestes locais", disse o governador.

Entretanto, para a representante da Anistia Internacional, Jurema Werneck, a comunidade não tem que contar para a polícia quando terá ação social, para evitar tiroteios nessas ocasiões. Uma das vítimas buscava os alimentos quando foi atingida.

"Estamos chamando atenção do governador para 17 mortes, em cinco comunidades, em uma semana. A mensagem desta reunião era: ninguém está dizendo para a polícia parar de trabalhar, mas que a polícia precisa trabalhar dentro da lei. Não queremos que a comunidade tenha que informar à polícia que vai fazer ação social, a comunidade tem sua vida própria e direito de fazer suas ações. A gente quer que a polícia não ameace a vida das pessoas", explica.

Mais operações e mortes

A Rede Observatório da Segurança aponta que, após o início do isolamento, em março, incursões nas favelas caíram, mas aumentaram em abril e maio. De 15 de março a 19 de maio, foram 209, com 69 mortos. Entre 15 e 22 deste mês, houve 17 mortes em ações policiais. "Já é tarde o gesto do governador. Não haver tiroteios durante ações sociais é o mínimo", declara a coordenadora Silvia Ramos. "Por que não levar ajuda aos mais necessitados agora ao invés de fazer operações policiais? Não ajudam e ainda atrapalham", diz Rene Silva, do Voz das Comunidades. O portal criado por Rene contabiliza 827 casos da doença em favelas do Rio, com 201 mortes.

Grupos que realizam ações sociais esperam que determinação seja cumprida

Um dos grupos sociais que se viu em meio ao tiroteio durante operação policial, enquanto realizava distribuição de cestas básicas na última quarta, foi o projeto Frente CDD. A expectativa, para eles, é de que o Estado cumpra a promessa de não operar durante serviços comunitários.

"Na favela, tiroteios não são episódios cotidianos. O doloroso foi estar nessa situação cotidiana, no momento em que estávamos quebrando um isolamento em prol de outras vidas, para atender a fome das pessoas, que deveriam ser atendidas pelo Estado e não são. A grande inquietação é essa. Já que o Estado não consegue ou não quer atuar nas favelas em prol da fome, da falta de água, com saúde, com princípios básicos da vida, que pelo menos tenham o caráter para cumprir a própria fala", falou Victor Andrade, do Frente CDD.

Fundados da Central Única das Favelas (CUFA), Celso Athayde diz que a discussão não é o não combate ao crime, mas o momento para fazer isso.

"A gente entende que o governo, a polícia e a Justiça, devem combater o crime. O ponto é que nesse momento de pandemia, em que o governo tem tantas coisas a fazer, é preciso elencar prioridades. Como o tráfico sempre existiu e, em nenhum momento, a polícia conseguiu eficácia no combate a ponte de fechar, priorizar ataques às favelas nesse momento, parece que é algo sem propósito. O que me parece é que o saldo disso tem sido a morte de jovens. É coerente que ele repense a atuação da polícia nesses territórios, principalmente neste momento", finaliza.