A primeira noite dos pais de João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, após a confirmação de sua morte, foi de muita dor. Depois do sepultamento do adolescente, no final da tarde de terça-feira, o retorno para a casa da família, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, foi bastante difícil.
"Parece que tudo na minha casa lembra o meu filho, está doendo muito, sinto dor mesmo. A sensação é de que me arrancaram uma parte. Está sendo muito difícil", desabafou Rafaela Matos Pinto, mãe do estudante. Isso foi tudo que ela conseguiu dizer antes de se emocionar ao lembrar do filho, que morreu após operação conjunta entre as polícias Civil e Federal, na segunda-feira, no localidade da Praia da Luz, na Ilha de Itaoca.
A família do adolescente procurou ontem a Defensoria Pública para acompanhar as investigações sobre a morte do estudante. A tia do menino, Denise Roza, disse que eles pensam em processar o Estado.
"Queremos justiça. Isso não pode ficar assim, sem respostas. É claro que queríamos ele vivo, mesmo que estivesse ferido, mas queríamos ele aqui conosco. Não vamos deixar para lá. Mesmo neste momento de tanta dor, estamos encontrando forças para correr atrás de justiça. A defensoria irá nos representar", contou.
Segundo Denise, até ontem, a Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, que investiga o caso, não havia entrado em contato com nenhum familiar, solicitando comparecimento na especializada para prestar depoimento.
"A Defensoria irá nos ajudar a acompanhar o caso junto à polícia, saber o andamento da investigação", disse a tia do adolescente.
Procurada, a Defensoria Pública informou que em breve emitirá uma nota sobre o caso.
Piloto depõe sobre a logística do socorro
Titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), o delegado Allan Duarte disse que até ontem já haviam sido ouvidos quatro policiais civis da Coordenadoria de Recurso Especiais (Core) e duas testemunhas que estavam na casa junto com João Pedro.
Um dos depoimentos foi do piloto da aeronave que socorreu o menino. Segundo Duarte, o policial explicou a logística de levar o garoto para o bairro da Lagoa, na Zona Sul do Rio. "O piloto foi ouvido hoje (ontem) e falou sobre a logística do socorro e, inclusive, justificou que isso já foi feito anteriormente até no socorro de policiais civis baleados em operações. O protocolo já foi adotado outras vezes", contou.
Casa ficou cravejada de tiros
"É muito tiro. Essa família está acabada, destruída. A Ilha de Itaoca está destruída. A dor de uma mãe é a dor de todos nós. Por favor, nos ajude! Isso não pode ficar impune. Essas operações dentro da comunidade não podem ficar impunes. Os nossos jovens, as nossas crianças. Aqui moram pessoas de bem. Isso aqui é uma casa de uma família de bem", lamentou a presidente da Associação de Moradores de Itaoca, Jack Silva.