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Fila de esperança

Mais de 1.300 pessoas aguardam doação de órgãos no estado, a maioria por rim

Os pais de Rayza Fernandes, que teve morte encefálica aos 27 anos
Os pais de Rayza Fernandes, que teve morte encefálica aos 27 anos -

A morte do apresentador Gugu Liberato deixou o Brasil de luto, mas um gesto generoso da família renovou a esperança de 50 pessoas na fila de transplantes nos Estados Unidos, onde ele morava. A esperança de recuperar a saúde através de um transplante é universal. No Rio de Janeiro, 1.369 pacientes aguardam a doação de órgãos. Mais de 92% da demanda é por um novo rim, com 1.265 pacientes. Outros 77 precisam de fígado; 16, de coração; e 11, de pâncreas. Candidatos a transplante de rim esperam, em média, 17 meses por um doador compatível no estado, segundo dados do Programa Estadual de Transplantes (PET), da Secretaria de Saúde.

A comoção com Gugu aumentou a busca por informações sobre o transplante de órgãos no Rio. O caso fez a dona de casa Vera Fernandes lembrar o duro momento em que precisou decidir sobre o destino para os órgãos da filha, a biomédica Rayza Fernandes, morta aos 27 anos, vítima de um aneurisma. A jovem desmaiou na casa do namorado na madrugada do dia 2 de maio. No hospital, sofreu morte encefálica. "Eu disse o 'sim' para salvar outras vidas. A gente é egoísta, quer a pessoa ali, mas senti um alento ao saber que o coração da Rayza tinha sido compatível com alguém. Ela tinha um grande coração", diz.

A única maneira de doar os órgãos e tecidos no Brasil é com autorização da família, ainda que a pessoa que morreu tenha indicado o desejo. Na plataforma 'Doe Vida' (www.doemaisvida.com.br), é possível fazer um cadastro, que ajudará a lembrar aos familiares em caso de morte.

Atleta ganhou chance de sonhar alto

Gabriel Ferreira ficou em coma após disputa de motocross. Transplante salvou a vida do atleta - Arquivo Pessoal

Um transplante de fígado deu ao piloto de motocross Gabriel Ferreira Montenegro, de 27 anos, uma nova chance de sonhar. Morador de Rio Bonito, ele sofreu a síndrome rabdomiólise durante uma competição em 2015. O rapaz desmaiou e foi internado. A complicação é causada pelo excesso de esforço, que provoca falência das fibras musculares e pode gerar falência de múltiplos órgãos. O quadro do atleta evoluiu para hepatite fulminante e ele ficou 26 dias em coma.

O transplante permitiu que Gabriel voltasse a ter uma vida sem restrições. Apaixonado pelo motocross desde os 8 anos, ele já voltou a praticar a atividade. "A doação é a chance de uma nova vida. É um milagre que alguém pode estar proporcionando. Muitas pessoas têm desconfiança por falta de conhecimento, mas é um processo muito transparente no Brasil. A chance que eu tive salvou minha vida", diz Gabriel, que vai comemorar 28 anos no dia 26 de dezembro.

 

Tira-dúvidas sobre doação de órgãos e tecidos

Quem pode e quem não pode ser doador após a morte?

Qualquer pessoa, não havendo contraindicações, pode ser doadora. Constatada a morte, uma avaliação clínica cuidadosa definirá quais órgãos e tecidos estão viáveis para transplante. Indivíduos sem identificação ou sem familiar maior de 18 anos não não podem ser doadores.

Quais são as contraindicações para doação?

Pessoas com histórico de câncer, infecções descontroladas e doenças infectocontagiosas. Pacientes hepáticos podem receber órgãos e tecidos de pessoas com hepatite. Cada situação será avaliada individualmente. Hipertensão, diabetes e a idade da pessoa falecida não são contraindicações.

O que é necessário para doar órgãos e tecidos?

Basta informar seu desejo aos seus familiares, que precisam autorizar a doação.

Como fica o corpo do doador?

As intervenções cirúrgicas não alteram a aparência de quem faleceu e não impedem o velório.

O que pode ser doado após a morte?

Na morte encefálica podem ser doados coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e intestino; e tecidos como córneas, ossos, pele e válvulas cardíacas. Na morte por parada cardíaca somente tecidos podem ser doados.

Quem recebe os órgãos e tecidos?

Um único doador pode beneficiar vários receptores, selecionados a partir de uma lista única nacional. Os receptores são selecionados por ordem de inscrição, em função da gravidade ou compatibilidade sanguínea e genética com o doador. A família do doador não sabe para quem foi o órgão.

A doação após a morte pode ser feita para parente ou conhecido?

Não. As doações após a morte são direcionadas somente para as pessoas inscritas na lista única.

Se os médicos souberem que podem doar meus órgãos, não vão deixar de cuidar de mim enquanto paciente?

Não. A prioridade é sempre salvar a vida do paciente. A doação de órgãos só ocorrerá após a constatação da morte.

Minha família terá custos se eu quiser doar órgãos?

Não há custos.

O que pode ser doado por pessoas vivas?

É possível doar um órgão duplo como o rim, parte do fígado, parte do pâncreas ou do pulmão ou um tecido, como a medula óssea. Mas apenas se não houver risco para quem está doando. Doações entre pessoas vivas são autorizadas somente para cônjuge ou parentes até 4º grau (pais, irmãos, netos, avós, tios, sobrinhos e primos). Para pessoas com grau de parentesco mais distante ou sem relação consanguínea, só com autorização judicial. No caso de sangue e medula, existem bancos de doadores para desconhecidos.

Como posso ser um doador vivo?

Dirija-se a um hospital transplantador (lista no site www.transplante.rj.gov.br), onde será avaliado por um médico e orientado sobre o processo. No caso de doação de sangue ou medula, seu histórico clínico será avaliado. Basta procurar o Hemocentro mais próximo.

Crescimento de autorizações

A taxa de autorização das famílias para doação de órgãos e tecidos no estado subiu de 38%, em abril, para 75%, desde julho, superando a média nacional, de 40%. De janeiro a outubro de 2019, foram feitos 1.907 transplantes. No mesmo período de 2018, foram 1.317: um aumento de 44%.

O Rio é o 9º estado no ranking nacional de doações, com 17,2 doadores por milhão de habitantes, e quer chegar à quarta posição em 2020, após investimento R$ 25 milhões na área. O líder é Santa Catarina, com 44,5 por milhão. "Aprimoramos as entrevistas com familiares, momento de solicitar a doação de órgãos", disse o coordenador do PET, Gabriel Teixeira. O órgão com segundo maior tempo médio de espera para transplante no Rio é o coração, com 11,6 meses, seguido do pâncreas, com 5 meses, e o fígado, com 3,5 meses.

Os pais de Rayza Fernandes, que teve morte encefálica aos 27 anos Luciano Belford
Os pais de Rayza Fernandes (ao lado), morta aos 27 anos, autorizaram a doação Arquivo Pessoal
Rayza Fernandes (de rosa) com os pais, Paulo Roberto Fernandes de Souza e Vera Fernandes Arquivo Pessoal
Rayza Fernandes e o namorado Guilherme Arquivo Pessoal
Gabriel Ferreira Montenegro, de 27 anos Arquivo Pessoal
Gabriel Ferreira Montenegro, de 27 anos Arquivo Pessoal
Gabriel Ferreira Montenegro, de 27 anos Arquivo Pessoal
Gabriel Ferreira Montenegro, de 27 anos Arquivo Pessoal
Gabriel Ferreira ficou em coma após disputa de motocross. Transplante salvou a vida do atleta Arquivo Pessoal