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Trabalho em dose dupla

Rafa e Fredy conciliam carreira de médico com a de músico

Rafa (à esquerda) e Fredy lançaram uma nova música: 'Sempre o Silêncio'
Rafa (à esquerda) e Fredy lançaram uma nova música: 'Sempre o Silêncio' -

Se trabalhar como médico de frente, em meio à pandemia do novo coronavírus, já é difícil, imagina conciliar esta carreira com a de músico. Mas é exatamente isso que Rafael Peruchi e Rafael Coelho, que formam a dupla carioca Rafa e Fredy, respectivamente, fazem. Eles alternam o trabalho atendendo pacientes graves nos CTIs de Covid-19 nos hospitais de campanha com ensaios e gravações em estúdio. Eles, inclusive, lançaram a música Sempre o silêncio, na última sexta-feira. 

"É bem cansativo conciliar as duas carreiras, ainda mais esse ano que teve toda essa questão do coronavírus. Desde o início da pandemia, eu e o Fredy estivemos na linha de frente, trabalhando nos hospitais de campanha à todo o vapor. No entanto, a gente dá um jeito. Nos horários livres, a gente acaba indo pro estúdio, pra cantar, criar alguma música nova. É cansativo, mas vale a pena. A gente gosta demais das duas carreiras. Então, a gente se vira nos 30 pra conseguir conciliar", comenta Rafa. Os dois trabalham juntos na Santa Casa, no Hospital de Covid e em outros locais, mas separados. 

O músico ainda frisa que não há conflito nas duas profissões, a não ser a de tempo. "Elas só conflitam entre si na questão do horário. Infelizmente, a gente não tem tempo de ser tudo. Se meu dia tivesse 48h, eu teria 24h como músico e 24h como médico. Mas tem essa limitação de tempo, disposição, a gente fica muito cansado", avalia.

Mesmo com o tempo curto, Rafa e Fredy tiveram um tempinho para se dedicar à música. Os dois lançaram a música Sempre o silêncio, na última sexta-feira. "É um single super legal. Um trabalho que a gente considera muito bacana, bem feito. É uma letra muito marcante pra gente, o que ela representa pro momento, pra nossa vida, nossa história. E a canção já está tocando nas rádios do Rio, na Região dos Lagos, Costa Verde", orgulha-se Fredy. 

'Uma gangorra de emoções'

E a pandemia não dá sossego. O número de mortes no Brasil já ultrapassa a marca de 100 mil. Para Fredy, ver a morte de perto ainda é delicado. "Lidar com a morte não é algo fácil. Mas a gente acredita que a nossa profissão é algo que a gente escolheu e fomos treinados pra isso. Tem técnica e costume mesmo para poder lidar com isso. A gente aprende que a morte faz parte do processo, da vida. No início da carreira, a gente se choca. Com o tempo, a gente vai lamentando. Algumas mortes impactam mais outras menos, dependendo de como é nosso contato com o paciente. Mas é uma gangorra de emoções", diz Fredy.

'Já cantei pra um paciente'

E é possível as duas profissões se complementarem. Fredy, por exemplo, já cantou para uma paciente para convencê-la a tomar um remédio. "Já cantei pra um paciente. Foi em um plantão. Mas teve uma outra vez também que cantei. Eu tinha uma paciente bem rebelde, ela era um pouco desorientada, e ela parou pra prestar atenção em mim quando meu colega disse: 'Olha esse cara aqui é músico, é cantor'. Ela me olhou com um olhar, como se tivesse voltado sua lucidez. Ela estava relutante em tomar um remédio e, na brincadeira, ela pediu pra eu cantar. Cantei e ela tomou o remédio."

Rafa (à esquerda) e Fredy lançaram uma nova música: 'Sempre o Silêncio' Washington Possato / Divulgação
Rafa e Fredy Washington Possato/ Divulgação
Rafa e Fredy Washington Possato/ Divulgação