Um gesto aparentemente simples, de empatia, gentileza e cuidado com o próximo, mas que serve para inspirar e dar esperança nesses tempos difíceis de pandemia do novo coronavírus, em que muitos lutam para ter o que comer e sobreviver às mazelas da vida. A história de Luzinete da Silva se encaixa nesse contexto.
Recentemente, ela jogou por engano R$ 200 e um carnê da escola da sobrinha no lixo. Ao encontrarem o dinheiro e perceberem que alguém havia jogado fora sem querer, os garis Aroldo Henrique de Oliveira Pontes e Cleinaldo Moreira de Souza Pires deram um jeito de localizar a dona e devolveram tudo.
Moradora do bairro Vilar Novo, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Luzinete saiu de casa para pagar a escola da sobrinha e aproveitou para jogar o lixo fora. "Na hora, me confundi e caiu tudo no latão. Segui para a escola e, ao chegar ao local, achei que tinha esquecido o dinheiro e o carnê em casa. No meio do caminho de volta, fiz uma retrospectiva, para ver se lembrava de algo para me ajudar. Percebi que havia jogado fora o dinheiro e o carnê com o lixo. Fiquei desesperada", contou Luzinete.
Mais tarde, no mesmo dia, dois garis bateram à sua porta para devolver os pertences. "Eles tiveram a boa vontade de devolver. São dois anjos", completou.
Informações na escola
Aroldo e Cleinaldo contaram que estavam percorrendo o roteiro habitual de trabalho, recolhendo o lixo, como fazem todos os dias. Quando chegaram a Vilar Novo, viram a bolsa limpa e que não aparentava estar com lixo.
"Cheguei a chamar a senhora, mas ela foi embora depressa", lembrou Cleinaldo. "O carnê nos chamou a atenção e, de bom coração, decidimos devolver, pois era o futuro de uma criança que estava em jogo. Quando acabamos o roteiro fomos à escola e pegamos o endereço para devolver.
Caso parecido no ano passado
Um caso muito parecido ao que aconteceu em Belford Roxo ocorreu no dia 28 de agosto de 2019, quando um gari encontrou R$ 700 em uma rua de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, e devolveu o dinheiro para a dona, a aposentada Maria Eli da Silva, de 72 anos. O dinheiro que caiu no chão era para pagar o aluguel da filha dela, que estava doente.
Quem achou o dinheiro foi o gari Leandro da Silva. Ele recorda que, apesar do valor ser praticamente a metade de seu salário, seu único pensamento foi de devolver o dinheiro. Por ironia do destino, Leandro até já conhecia a aposentada, que sempre oferecia água e suco para os garis, quando o caminhão de lixo passava por sua rua.
Sensação de dever cumprido
Ainda sob o impacto da emoção de ter feito o bem e do encontro com Luzinete para devolver o dinheiro e o carnê, em Belford Roxo, o gari Aroldo Pontes resumiu a experiência com a simplicidade de quem tem a consciência de que simplesmente cumpriu o dever e devolveu a tranquilidade ao próximo. "Foi uma alegria, quase chorei junto com a família (de Luzinete)", disse, ao lado do colega Cleinaldo de Souza Pires, que enfatizou: "Os tempos não estão fáceis, principalmente agora com essa pandemia. Nós somos trabalhadores e sabemos como é a luta para repor quando se perde. Fizemos o que tinha que ser feito. Afinal, o caráter é o que nos move".