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'Que Deus nos abençoe e nos guarde'

Covid atinge porteiros e zeladores do Rio. Sindicato diz que são três mortes, mas os números reais podem ser ainda maior

Segundo o porteiro Flávio Vidal, a pandemia da covid-19 mudou sua rotina de trabalho
Segundo o porteiro Flávio Vidal, a pandemia da covid-19 mudou sua rotina de trabalho -

Por conta da pandemia da Covid-19, a população teve que mudar hábitos e alterar a rotina do dia a dia. No Rio de Janeiro, desde o anúncio do isolamento social, em março, muitos trabalhadores não conseguiram o privilégio de trabalhar de casa (home office). Há quase quatro meses, profissionais que trabalham em prédios e condomínios residenciais estão operando no limite e cumprindo as determinações dos órgãos de saúde para não levarem a doença para dentro de casa.

Segundo o Sindicato dos Empregados em Edifícios do Município Rio Janeiro (SEEMRJ), desde o início da pandemia foram registradas três mortes entre seus associados. Um número que é questionado pelo próprio presidente da categoria. O sindicato não tem um setor especifico para contabilizar o número de mortos ou infectados pela Covid.

"Esses três que morreram eu os conhecia. Mas tem muitos profissionais que acabam não se associando ao sindicato. Os porteiros fazem a linha de frente, os números podem ser ainda maior. Apesar desses meses que a doença já está em nosso país, ela ainda é desconhecida. Não tem uma vacina eficaz. A gente cobra que os condominios forneçam o minímo para garantir a seguranças dos profissionais", diz Carlos Antônio, presidente do SEEMRJ.

A primeira morte por Covid registrada no Brasil foi de um porteiro. Manoel Messias Freitas Filho, de 62 anos, era hipertenso e diabético e fazia parte do grupo de risco. Ele era aposentado, mas ainda exercia a função. 

"Que Deus nos abençoe e nos proteja dessa doença". O desabafo é feito pelo porteiro Flávio de Paiva Vidal, de 46 anos. Ele trabalha há três anos em um prédio na Rua Pontes Correia, no Andaraí, Zona Norte do Rio. Os cuidados no dia a dia de trabalho são outros, o equipamento de proteção durante também mudou. Luvas e máscaras passaram a ser de uso indispensável. Para ele, tudo cuidado é pouco para não levar a doença para casa e contaminar esposa e filho. 

"Desde quando chegou essa pandemia a gente nunca parou de trabalhar. Além de cuidarmos da nossa saúde, precisamos pensar em nossos familiares. A gente sabe que muitos porteiros e zeladores, por estarem no dia a dia nas ruas, levaram essa doença para dentro de casa. Perdemos alguns amigos para esse vírus", fala o porteiro.

Seja na Zona Norte, ou mesmo na Zona Sul da Capital o cuidado para quem trabalha em prédios e condomínios precisa ser o mesmo. Há 16 anos trabalhando em um prédio residencial na Rua Visconde de Pirajá, Ipanema, o porteiro Givanildo Irineu da Silva, 45 anos, diz que perdeu um amigo que trabalhava no prédio vizinho para a doença.

"Aqui no prédio foi preciso mudar nossa rotina. O álcool gel fica no balcão. Quem entra no prédio precisa se higienizar, seja morador ou visitante. No início, muitos não levavam a sério. Aqui nessa região, tivemos um porteiro que morreu e contaminou a família. A filha dele também faleceu em decorrência da doença", explica.

Além de atender os moradores, os porteiros assumem a responsabilidade de receber encomendas e entregadores.

"Quando chega o carteiro ou um entregador, somos nós quem atendemos. Somos nós quem fazemos a recepção para os parentes dos moradores. Não sabemos se essas pessoas estão contaminadas ou não. Não sabemos se elas estão tomando os cuidados necessário, é muito arriscado", diz o porteiro Flávio Vidal.

 

 

'Que Deus nos proteja'

A primeira morte por Covid registrada no Brasil foi de um porteiro, em São Paulo. Manoel Messias Freitas Filho, 62, era hipertenso e diabético. Flávio Vidal lembra que os cuidados e a proteção no trabalho agora são outros — luvas e máscaras passaram a ser indispensáveis. E todo cuidado é pouco para não levar a doença para casa e contaminar esposa e filho. "A gente nunca parou de trabalhar. Além de cuidarmos da nossa saúde, nós precisamos pensar em nossos familiares", diz.

Atuação na linha de frente

Há 16 anos em um prédio residencial em Ipanema, o porteiro Givanildo Irineu da Silva, 45, conta que perdeu para a doença um amigo que trabalhava num prédio vizinho. "Aqui foi preciso mudar nossa rotina. O álcool em gel fica no balcão. Quem entra precisa se higienizar, seja morador ou visitante", diz. Além de atender os moradores, os porteiros assumem a responsabilidade de receber encomendas e entregadores. "Não sabemos se essas pessoas estão tomando os cuidados necessários, é muito arriscado", diz Flávio Vidal.

Segundo o porteiro Flávio Vidal, a pandemia da covid-19 mudou sua rotina de trabalho Arquivo pessoal
O porteiro Flavio Vidal diz que a pandemia da Covid 19 mudou sua rotina de trabalho Arquivo pessoal