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 Vendedor de açaí em Ipanema troca areias pelo asfalto e se mantém com entregas durante a pandemia

Luciano Felipe deixa ambiente da praia para trás: no lugar dos pés descalços e da bermuda, estão a calça comprida e o sapato com entregas na pandemia

Luciano Felipe investe em entregas de açaí em casa para se manter durante a pandemia
Luciano Felipe investe em entregas de açaí em casa para se manter durante a pandemia -

O uniforme se mantém, mas os pés não estão mais descalços e a bermuda também é deixada no armário. De calça comprida e sapato, Luciano Felipe, de 46 anos,percorre as calçadas do Rio no lugar das areias quentes para entregar o açaí que ficou famoso durante 12 anos pegando no batente na Praia de Ipanema. Pelo interfone dos prédios, ele chama os clientes fiéis, que antes curtiam momentos de lazer sob o sol escaldante da cidade e agora cumprem as regras de isolamento social.

“Quando chego para fazer as entregas, as pessoas me recebem com alegria. E um foi contando para o outro que eu estava entregando em casa. Eu dependo da praia e vi a necessidade de fazer alguma coisa para me manter. Igual à praia não é. Mas está dando para eu me manter. No último verão, também choveu demais e não teremos as férias de julho.Então, as entregas devem continuar”,diz Luciano, contando que, na praia, é mais conhecido por Felipe.

Das areias, a saudade é grande: “A praia é um ambiente onde sou bem recebido, bem tratado. Muitos espera meu chegar para comprar comigo”.Nascido em Natal, ele veio para a Cidade Maravilhosa bem pequeno, aos 4 anos, e cresceu no Rio: “Eu me criei aqui no Rio. Fiz minha vida aqui”.Durante 20 anos,morou no Vidigal.Passou por vários empregos: em lanchonete — “Era o curinga,fazia de tudo” — em mercado como repositor, em oficina, foi office boy, trabalhou no Country Club...Sua ida para a praia aconteceu quando ele trabalhava numa lanchonete em Ipanema, de 6h às 15h. “Trabalhava perto da praia e via as pessoas vendendo. E sempre gostei de ter uma renda extra.Saía de lá e ia vender açaí na praia”, lembra. Nessa época, já morava em Senador Camará, onde vive até hoje.

A partir daí, resolveu largar o emprego com carteira assinada para trabalhar somente nas areias. E conta que formou sua clientela fixa na Praia de Ipanema como muita disciplina: “Eu passei a trabalhar com compromisso como se estivesse num emprego com carteira assinada”.

Na linha 461, uma amizade com Fabiano do Mate

Luciano Felipe, na Praia de Ipanema: vendedor formou uma clientela fiel com seu açaí - Arquivo pessoal
O início de sua trajetória na praia rendeu a Luciano uma amizade. Foi na linha de ônibus 461, que ele pegava em São Cristóvão, depois de descer do trem vindo de Senador Camará, que ele passou a conversar com outro trabalhador das areias: Fabiano do Mate, que também vem atuando com entregas em casa nesta pandemia. Fabiano,por sua vez, vinha de Guadalupe até São Cristóvão para pegara condução até as areias de Ipanema, naquela época.
“A gente foi conversando no ônibus,pegando amizade. Claro que não era todo dia que coincidia de irmos juntos.Mas íamos trabalhar na mesma praia e assim surgiu a amizade”, lembra Luciano Felipe.O início nas areias é lembrado pela dificuldade, o desgaste que a praia exige diariamente do vendedor sob o sol escaldante. “Como eu não tinha costume, o corpo realmente sentia o ritmo mais pesado da praia”, recorda.
Luciano Felipe investe em entregas de açaí em casa para se manter durante a pandemia Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Luciano Felipe investe em entregas de açaí em casa para se manter durante a pandemia Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Luciano Felipe investe em entregas de açaí em casa para se manter durante a pandemia Ricardo Cassiano/Agencia O Dia