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Curados da covid-19, profissionais de saúde voltam ao trabalho

Dever profissional e vontade de ajudar ao próximos levam médicos e enfermeiros de volta à linha de frente

Nina Savoldi, enfermeira, 62 anos, enquanto esteve internada. Agora, ela aguarda parecer médico para saber se pode voltar ao trabalho
Nina Savoldi, enfermeira, 62 anos, enquanto esteve internada. Agora, ela aguarda parecer médico para saber se pode voltar ao trabalho -
Diariamente, vários profissionais de saúde curados da covid-19 estão retornando aos seus postos de trabalho. É o caso da enfermeira Nina Savoldi, 62 anos, que é hipertensa e diabética, o que a coloca no grupo de risco. Ela está se recuperando e hoje tem consulta para saber se já pode voltar ao trabalho na segunda-feira como responsável técnica da enfermagem do Instituto Fernandes Figueira (IFF).

"Os meus familiares e eu ficamos receosos, com medo de uma nova contaminação. Mas a volta ao trabalho é um compromisso, responsabilidade,é sabido que os colegas estão sobrecarregados”, explica ela, que, ao retornar, promete ser ainda mais cautelosa. “Vou voltar com muito mais cuidado, usando equipamentos de proteção individual (EPIs) e provavelmente não vou atender pacientes de covid. Vou me envolver com questões em relação ao serviço de enfermagem e promoções de aleitamento materno, orientar gestantes e equipe", conta.

Nina conta que enquanto esteve na UTI teve medo de morrer. “Pensava sobre o que fiz da vida até aqui, quais minhas falhas, o que fiz de bom. É como se fosse passar na cabeça um filme da infância, adolescência, vida adulta, se valeu a pena as coisas que adquiri. É um momento de muita solidão, você fica isolado na UTI, não tem familiares perto. Você fica com os profissionais e Deus”, lembra emocionada.

Aos 29 anos, a técnica em enfermagem Ana Beatriz Honório voltou ontem ao trabalho em um hospital particular na Zona Norte, 15 dias após ficar curada. Para ela, o mais difícil foi ficar isolada no quarto, sem receber visitas. A reação da família com o retorno ao trabalho não foi unânime. "Minha mãe não concordou, mas o resto da minha família está tranquila", diz. Ana Beatriz, que faz faculdade de Biomedicina, só pensa em voltar ao trabalho. "As pessoas precisam da gente nesse momento”, diz, enfatizando a admiração pelos colegas. "Os profissionais que estão vivendo essa luta merecem muito mais do que nosso respeito e admiração".

Especializado em fisioterapia em terapia intensiva, o médico Ezequiel Pianezzola contraiu o novo coronavírus no começo da pandemia e ficou assustado. Ele se afastou da família quando surgiram os primeiros sintomas, e não precisou ficar. Foram dez dias de febre e uma fadiga que o obrigou a tomar banho sentado. Ele voltou a trabalhar 16 dias após se recuperar. "Voltar a trabalhar era uma prioridade. Está na minha vocação primeiro exercer a minha profissão, ajudar ao próximo, fazer com que mais pessoas possam superar a doença com o mínimo de sequelas", explica

Pianezzola trabalha em um hospital particular tratando pacientes graves da covid-19. “Temos toda proteção e cuidado com os EPIs. Me protejo tanto quanto os que não ficaram doentes. Todas as regras e normas de segurança são fundamentais para que eu não fique doente de novo, nem transmita o coronavírus para outros. Nossa vocação é ajudar o próximo”, defende.

Imunidade duvidosa

Ainda são se sabe se os anticorpos produzidos por quem se recuperou da covid-19 conferem imunidade ao novo coronavírus. "Se conferirem imunidade ainda é necessário saber por quanto tempo. Nem toda imunidade é permanente. Sendo assim, convém manter as medidas preventivas indicadas para todas as pessoas", explica a infectologista Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro.

O epidemiologista Danilo Klein concorda. "Há vírus para os quais temos proteção por toda a vida. Há outros para os quais se cria uma proteção temporária. Para o novo coronavírus, a gente ainda não teve tempo para saber se a imunidade existe e se é temporária ou permanente", explica. "Hoje, ter anticorpos para o coronavírus não é atestado de imunidade", afirma
Nina Savoldi, enfermeira, 62 anos, enquanto esteve internada. Agora, ela aguarda parecer médico para saber se pode voltar ao trabalho Acervo Pessoal
Ezequiel Pianezzola, fisioterapeuta especializado em terapia intensiva, sobre voltar ao trabalho: "Era uma prioridade", diz Acervo Pessoal

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