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Lotação de leitos já é realidade no Rio

Segundo o Sindicato dos Médicos, há uma fila de espera com mais de 200 pacientes e a capital tem transferido muitos para outras cidades

Ocupação da rede estadual é de 80% em UTIs e 66% em enfermarias
Ocupação da rede estadual é de 80% em UTIs e 66% em enfermarias -
Um dos momentos mais temidos pelas autoridades fluminenses, a lotação dos leitos para o tratamento das vítimas da covid-19, já pode ser considerado uma realidade. Segundo o Sindicato dos Médicos (Sindmed), só no Rio já há uma fila de espera com mais de 200 pacientes, e a capital tem transferido muitos para outras cidades. A peregrinação em busca de uma vaga tem deixado marcas fatais. Caso foi o caso da técnica de enfermagem Anita de Souza Viana, de 63 anos, que mesmo trabalhando em uma unidade de referência para o tratamento da doença, o Hospital Ronaldo Gazolla, só conseguiu vaga para ser internada em Volta Redonda, Sul Fluminense, onde acabou falecendo.
Dados atualizados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que a taxa de ocupação total da rede em UTIs é de 80%. Até ontem, havia apenas 15 leitos de UTI disponíveis na capital e 40 em outros municípios.
Já os leitos de enfermaria do estado estão com taxa de ocupação de 66%. De acordo com a SES, a demanda aumentou bastante. Há duas semanas essas taxas eram de 41% (enfermaria) e 63% (UTI).
Esses números representam apenas as UTIs destinadas especificamente para o tratamento do novo coronavírus na rede estadual. Ontem, 37 novos respiradores foram entregues. Porém, ainda é um número longe do ideal.
"O Hospital Ronaldo Gazolla (em Acari) está lotado. São mais de 200 pessoas na fila de regulação para Clínica Médica, todos acometidos pela covid-19. Tem pacientes sendo transferidos de UPAS para municípios como Vassouras e Volta Redonda", afirma Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmed).
Ainda segundo a SES, 548 novos leitos exclusivos para covid-19 foram abertos em todo o estado e que, ao todo, vai disponibilizar na capital, Região Metropolitana e interior 3.414 leitos. Desses, 2 mil ficarão em hospitais de campanha, inaugurados de forma gradativa, em maio. Os primeiros a serem abertos serão as unidades do Leblon e Maracanã. Vale ressaltar que entre a rede privada, pública e federal, o Estado do Rio contabiliza 32 mil leitos e 6,5 mil leitos de terapia intensiva.

Justiça determina que hospitais federais cedam leitos

A Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou anteontem que os seis hospitais federais, no município, cedam seus leitos livres para a regulação unificada. Os hospitais deverão inserir diariamente os leitos livres no campo "cedidos" dentro do sistema regulatório da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para permitir a utilização. Se a decisão não for cumprida em 48 horas, há pena de multa diária no valor de R$ 1 mil por dia de atraso no cumprimento.
A decisão foi publicada anteontem em ação civil pública de autoria da Defensoria Pública da União (DPU), por meio do 2º Ofício Regional de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, e do Ministério Público Federal (MPF). Audiência sobre o caso deve acontecer no próximo dia 27, via videoconferência.
Segundo os autores da ação, a finalidade é garantir o fluxo dos pacientes diagnosticados com a Covid-19 para os leitos federais, conforme necessidade identificada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
O defensor regional de direitos humanos (DRDH), Daniel Macedo, responsável pela ação junto com o DPU e MPF, atenta para falta de leitos, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), profissionais de saúde e concursos públicos para a área. "Pela manhã (de ontem) haviam 263 pacientes na fila de espera para leitos de UTI e enfermaria, com diagnóstico ou suspeita de Covid-19, só na cidade do Rio e Baixada Fluminense".
De acordo com a assessoria de comunicação do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, não haverá pronunciamento oficial sobre a determinação judicial. Eles informaram que desde março a pasta está cedendo leitos, assim que esvaziados, estão sendo disponibilizados para as redes municipal, estadual e federal de saúde.
Na decisão assinada pela magistrada Carmen Arruda, ainda há a determinação que a União informe em 48 horas quais são as unidades hospitalares móveis a serem montadas pelo Exército para auxiliar no combate à pandemia, com respectiva previsão de conclusão. Além de apresentar cronograma e quantitativo de EPIs a serem distribuídos para os hospitais federais.

Mais leitos e profissionais

A prefeitura do Rio informou que, em toda a rede SUS, que inclui unidades municipais, estaduais e federais na cidade, a taxa de ocupação é de 93%. Segundo nota, há 357 leitos exclusivos criados no hospital de referência, o Ronaldo Gazolla, e em outras unidades da rede. "Além deles, há pacientes internados em áreas isoladas, preparadas para o atendimento de casos de covid, nas unidades de emergência da rede municipal", completou. Segundo o município, serão abertos novos leitos no Ronaldo Gazolla nos próximos dias.

Ontem, a prefeitura publicou edital para a contratação temporária de 3.922 profissionais de saúde para atuarem no combate à Covid-19, nas unidades de campanha do Riocentro, o Hospital Federal de Bonsucesso e o Hospital Universitário da UFRJ.

Uma triste peregrinação

O Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, embora seja referência no tratamento da covid-19, não funcionou para uma de suas profissionais de saúde. Apesar de Anita Viana trabalhar na unidade, ela nem realizou o exame que detecta a doença no hospital. A funcionária também não encontrou leito para internação no local.

Ela foi internada na UPA de Bangu, até ser transferida para o Hospital Estadual Zilda Arns, em Volta Redonda, onde faleceu, no dia 16. Por nota, a SES ressaltou que transferências fazem parte do protocolo para não sobrecarregar as equipes e o atendimento, já que os pacientes de covid-19 necessitam de preparo específico.

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