Mais Lidas

Terminal como morada

Mesmo com casa e aposentadoria, idosas decidiram viver na Rodoviária Novo Rio

A administração da rodoviária afirmou ter feito tentativas para ajudar os idosos a voltar para casa
A administração da rodoviária afirmou ter feito tentativas para ajudar os idosos a voltar para casa -

O ritmo acelerado da Rodoviária Novo Rio, no Santo Cristo, por onde passam cerca de 50 mil pessoas diariamente, parece não acompanhar a rotina de três senhoras no terminal. Apesar de estarem ali sentadas nos saguões, com bolsas, elas não pegam ônibus. E não retornam para casa, pois fizeram da rodoviária sua morada.

Aos 73 anos, C. voltou para a rodoviária há duas semanas, depois de ficar um ano afastada. Ela 'morou' no terminal de 2015 a 2018.

Dona C. não é de muitas palavras: "Tenho casa, sou funcionária pública aposentada. Recebo meu dinheiro. Moro aqui, sim, mas não posso falar", argumentou.

"Ela toma banho, come, compra roupas e até dá dinheiro para quem pede", contou uma funcionária lembrando que C. tem um filho morador de rua. "Ele aparece aqui para pedir dinheiro à mãe".

A poucos metros de C., a mineira T., de 64 anos, é outra que fixou residência na rodoviária, desde 2016. Arredia numa primeira aproximação, porém, aos poucos, ela conta sua história. "Tinha um irmão doente no Rio. Ele morreu e eu fui ficando aqui. Tenho uma boa pensão, mas compro um remédio para lúpus que custa R$ 5.800. Com o dinheiro que sobra tomo banho e como", justifica.

Articulada, T. diz que passa os dias lendo sobre Filosofia, Antropologia e observando as pessoas. "Estou em guerra com a rodoviária. Não me querem aqui", diz, afirmando ser perseguida pelos agentes do terminal. Ela não fala de sua vida, mas garante ter conhecido Nova York, a França e a Itália e, antes de ir para a rodoviária, viveu no Aeroporto Santos Dumont.