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A casa da diversidade

Casa Nem dá acolhimento e apoio à população LGBTI em vulnerabilidade social

Quem passa pela Rua Dias da Rocha, em Copacabana, e olha de fora o velho prédio de seis andares, já é logo avisado: "Cure o seu preconceito". Ao entrar pelo portão, antes de subir as escadarias, um banner deixa o recado explícito: ali não é permitida nenhuma forma de opressão. Estamos na Casa Nem, espaço de acolhimento, passagem e ações voltadas às pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex).

Administrada por ativistas trans, a Casa Nem dá acolhimento e promove o resgate da autoestima a pessoas sujeitas à vulnerabilidade social. Hoje, 52 pessoas convivem no lugar.

Depois de sofrer agressão transfóbica, em Niterói, Luana Paixão, de 25 anos, encontrou na casa, onde está há três meses, uma nova família. "Aqui fui muito bem acolhida. Encontrei pessoas que se importam comigo e não estou mais sozinha".

Christal Focatrua, de 21, identificada com o gênero fluído (que se sente homem em determinados dias e mulher em outros), diz que vive o momento mais equilibrado da sua vida. "Agora, quero apenas viver livre".

Há quem tenha passado pela dureza das ruas, como a trans Morgana Talia, de 33, mineira que há um ano chegou ao Rio. "As pessoas passavam por mim e fingiam que não me viam", contou Morgana, que tem sonhos bem comuns a qualquer pessoa, independente do gênero: "Quero um emprego, uma casa e um amor".

Na casa ainda vivem Duda Correia, de 24, que veio do Ceará morar com uma irmã no Rio, depois da morte dos pais, e acabou expulsa. "Ainda estou assimilando tudo o que aconteceu na minha vida". Com problemas financeiros depois de sofrer agressões homofóbicas e perder o emprego, o atendente de telemarketing Felipe Gabriel, de 26, foi morar na casa. "Ao chegar e dizer que queria moradia, fui recebido com abraços", lembra comovido.

A casa não recebe nenhum apoio institucional, segundo a gestora, Larubia da Silva, de 32, e os moradores não pagam por nenhuma atividade. O grupo conta com doações. As tarefas são dividias entre todos. Lá, eles têm todas refeições, além de atendimento médico e psicológico por voluntários.

A Casa Nem surgiu em 2016 como um cursinho pré-vestibular, o 'Prepara Nem', voltado às pessoas trans. Segundo Indianara Siqueira, idealizadora do projeto, como muitas das alunas tinham problemas de moradia, as ações precisaram ser expandidas. Além de acolher um grupo vulnerável socialmente, a Casa Nem promove cursos voltados à geração de renda dos moradores. Segundo Indianara, apesar da função social desempenhada, os órgãos públicos não reconhecem a casa oficialmente.