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A voz do Carnaval: Jorge Perlingeiro volta ao rádio e fala sobre os bastidores da folia

Apresentador reestreia o programa 'Samba de Primeira', na rádio Mania FM, entrega a chave da cidade ao Rei Momo, hoje, durante a abertura oficial do Carnaval de Rua

Jorge Perlingeiro
Jorge Perlingeiro -

Ele é um ícone do Carnaval carioca! Há mais de 30 anos ecoando sua voz pela Marquês de Sapucaí na apuração das notas das escolas de samba do Grupo Especial, Jorge Perlingeiro voltou, ontem, ao comando do programa "Samba de Primeira", que vai ao ar todos os sábados, das 12h às 14h, na rádio Mania FM. A atração, responsável por revelar diversos bambas nas últimas décadas, traz convidados ilustres e a cobertura da folia. E as novidades não param por aí. Hoje, a partir das 13h, Perlingeiro vai estar na Praia de Copacabana para a abertura oficial do Carnaval e entregará as chaves da cidade para o Rei Momo — a final da eleição da Corte Real vai rolar nesse mesmo evento, que terá ainda o Bloco da Favorita.

"Eu faço isso há anos, mas, desta vez, vou ter que levar um balde de bronzeador e fazer a apresentação de sunga", brinca ele, sobre o calor que tem feito no Rio. "É motivo de muito orgulho. Acredito que lembram de mim para esses eventos porque em time que está ganhando não se mexe. Mas tenho meu mérito. Do contrário, eu não estaria lá", afirma.

O prestígio é tamanho que os bordões "Dez, nota dez" e "Só se for agora" se tornaram patrimônio imaterial da cidade. Tudo isso dá ainda mais combustível para o apresentador nem pensar em aposentadoria. "Eu não tenho porque pendurar o microfone", diz Perlingeiro, acrescentando que seu programa, que estreou nos anos 70, na TV Tupi, volta aos rádios conectado com as redes sociais. "As pessoas podem assistir o programa pelo Instagram e pelo Facebook. Temos painel de LED, mantendo a identidade do programa que passava na TV", conta. Abaixo, confira a entrevista exclusiva de Jorge Perlingeiro para o MEIA HORA.

Jorge Perlingeiro e Dudu Nobre no programa 'Samba de Primeira', que estreou ontem na rádio Mania FM - Divulgação

Perlingeiro, você reestreou ontem o programa "Samba de Primeira" na Mania FM. Como vai funcionar a atração?

O "Samba de Primeira" está voltando após um ano e meio de pausa. Inicialmente, vai ser um programa voltado para a cobertura do Carnaval, levando as escolas para o nosso auditório, além de exaltar a nossa música popular brasileira.

Depois desses quase dois anos afastado, o que o motivou a voltar?

O convite da Mania FM me sensibilizou. É uma rádio que é a minha cara, voltada para o samba. Se fosse uma rádio ligada ao funk ou ao sertanejo, não seria a mesma coisa. Sem contar que os ouvintes vão poder curtir através das redes sociais, pelo Instagram e Facebook. No auditório, tem painel de LED, mantendo a identidade do que passava na TV.

Essa pausa foi pensada?

Não foi proposital. Não saí da Rádio Globo porque quis, mudou a programação. Infelizmente, não deu certo, mudaram o formato e dispensaram todos.

O "Samba de Primeira" virou uma vitrine para os cantores do gênero. Qual o balanço que você faz desses 50 anos de trajetória?

É a minha marca. O programa que me acompanhou durante toda a vida e tem um certo respeito pelos artistas. Modéstia à parte, eu ajudei muita gente. Eu não gosto de citar nomes, mas os artistas sempre dizem que o meu programa foi o primeiro que muitos foram. Colaborei com o crescimento de muitos deles. Isso é uma alegria num país que não tem memória. Tenho meu reconhecimento dos amigos e da cidade. Me sinto muito feliz nessa reta final de carreira.

O apresentador com Sabina Sato, Rainha da Vila Isabel - Reprodução do Instagram

Isso quer dizer que a aposentadoria já está nos seus planos?

Eu só termino quando Deus achar que é a hora. A aposentadoria é o princípio do fim (risos). Então, enquanto tiver saúde, eu não tenho porque pendurar o microfone. No próximo sábado, dia 18, completo 75 anos. Hoje me sinto mais preparado do que no passado. São 75 anos, com corpinho de 74.

Mas são 75 anos com energia de adolescente. Tanto que hoje você ainda participa da abertura oficial do Carnaval, certo?

Isso, vai ser no palco onde foi o Réveillon. Eu faço isso há 30 anos, mas, desta vez, vou ter que levar um balde de bronzeador e fazer a apresentação de sunga (risos). Mas tudo isso é um motivo de orgulho. Acredito que lembram sempre de mim para esses eventos porque em time que está ganhando não se mexe. Mas tenho meu mérito. Do contrário, eu não estaria lá. Carnaval é a época mais corrida para mim, eu moro na Marquês de Sapucaí durante uma semana inteira. É sinônimo de muito trabalho. 

O Carnaval te deu muitas alegrias, certo? Não é à toa que seus bordões "Dez, nota dez" e "Só se for agora" caíram na boca do povo, né?

Sim! Tanto que viraram patrimônio imaterial. Tudo isso é motivo de alegria. Eu faço essa narração durante a apuração das escolas de samba há mais de 50 anos, desde quando os desfiles eram na Avenida Rio Branco (Centro do Rio). Mas, na verdade, quem criou o "Dez, nota dez" foi Carlos Imperial. Ele gritava. Obviamente, a gente enaltece a última nota na apuração, porque é a que define o campeão do Carnaval. Isso precisa ser valorizado. É um grande espetáculo. Todo mundo diz que as minhas paradinhas causam suspense, mas isso faz parte do show, é uma interpretação das notas.

Por isso deve exigir uma responsabilidade muito grande...

Os nervos ficam aflorados, mas é uma paixão. Nesses 30 anos de apuração na Marquês de Sapucaí, eu nunca errei uma nota. É um momento decisivo para o Carnaval.

Encontro de Jorges: Perlingeiro e Aragão trocam figurinhas do samba - Reprodução do Instagram

Falando nisso, já passou por alguma saia justa durante a apuração?

Aconteceu uma vez! Uma nota que foi dada muito baixa para a Porto da Pedra, só que ela estava muito bem naquele Carnaval. Me deu um tremendo constrangimento, porque acompanho todos os desfiles. Aquela nota me deu um vazio. Mas o presidente da escola saiu lá de baixo e foi no palco me questionar se eu tinha lido a nota errada. Eu disse que gostaria muito que estivesse errado, mas aquela nota não era minha. 

E nas ruas? O pessoal te aborda pelos bordões?

Me param bastante, mas não pelos bordões. As pessoas me questionam muito sobre uma nota baixa, mas eu sou papagaio de pirata! Eu só sou um interlocutor (risos), mas são coisas boas que cercam a gente.

Falando nisso, você é assumidamente Vila Isabel. Fica difícil segurar o coração quando rola uma nota mais alta ou mais baixa para a agremiação?

A Vila é minha escola de coração. Eu consigo segurar a emoção, porque eu preciso separar as coisas. Assim como todo locutor esportivo tem um time de futebol. E quando perde o jogo, não dá pra transparecer a tristeza. Todo sambista tem uma escola, independente de onde trabalha. Comecei a trabalhar na Vila em 84 e, desde então, ficou essa paixão. Paixão pela Vila Isabel e pelo meu América, mas no quesito futebol, é melhor a gente não comentar (risos).

E você acredita que a Vila Isabel vem forte neste Carnaval?

Com certeza! A Vila vem firme, como fez ano passado, que ficou em terceiro lugar. Hoje o Carnaval é bem mais equilibrado. Não tem essa de escola grande ou pequena. Há um nivelamento muito grande pela qualidade do espetáculo.

Como grande conhecedor do Carnaval carioca, como você vê a evolução da folia nas últimas décadas?

Eu não faço esse comparativos. Hoje o espetáculo é mais técnico. O Carnaval de antigamente era mais participativo, as pessoas brincavam mais na Avenida. Não havia tanto comprometimento como agora. Hoje existe mais elaboração em função da riqueza. A festa se aprimorou com luxo e beleza.

 

O apresentador com Sabina Sato, Rainha da Vila Isabel Reprodução do Instagram
Jorge Perlingeiro Divulgação
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Jorge Perlingeiro e Dudu Nobre no programa 'Samba de Primeira', que estreou ontem na rádio Mania FM Divulgação
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Jorge Perlingeiro Roberto Filho / Divulgação
Jorge Perlingeiro Romulo Tesi / Divulgação
Encontro de Jorges: Perlingeiro e Aragão trocam figurinhas do samba Reprodução do Instagram

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