Mais Lidas

Pedaço da África

Madureira é o bairro que mais concentra movimentos de valorização da cultura negra

Na Zona Norte, Madureira brilha no coração do subúrbio. Debaixo do viaduto e ao longo das ruas movimentadas, o ritmo intenso transforma o bairro em polo comercial e cultural. Ali, o dia a dia traz várias referências à herança africana. História que será recontada no desfile da Unidos do Jacarezinho — no Grupo C do Carnaval —, que homenageia Paulo da Portela, e esteve presente no especial de Natal da TV Globo, rodado no bairro e produzido exclusivamente por artistas negros. São exemplos que, assim como a rotina nas escolas de samba e os eventos que valorizam a cultura africana, exaltam o bairro como o mais identificado com as raízes negras no Rio de Janeiro.

Terra da Portela e do Império Serrano, Madureira surgiu da migração de comunidades negras com o 'Bota Abaixo', reforma que eliminou moradias populares no Centro do Rio no começo do século 20.

"Os anos 1920 marcam o começo da ocupação cultural dos negros com a fundação da Portela. Em 1947, nasce o Império Serrano com o jongo, a ancestral dança originária de Benguela", explica o historiador Phillipe Valentim.

A cultura africana corre nas veias de que vive em Madureira. Para Elias José Alfredo, presidente do Agbara Dudu, primeiro bloco afro do Rio, o borbulhar do bairro reforça a voz da comunidade negra.

"Nós somos africanos da diáspora, e exercitamos algo que é nosso, e nos foi negado, como a dança e o canto. Quando você vai ao Jongo da Serrinha, no Baile Charme, na escola de samba, está vivendo uma África da diáspora. Para nós, Madureira é esse polo cultural, comercial e social da periferia, e atrai pessoas da Baixada Fluminense, da Zona Norte, da Zona Oeste e da Zona Sul que vêm para viver essa cultura africana aqui", afirmou.