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Os pais da menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta por bala perdida no Complexo do Alemão, falaram sobre a filha pela primeira vez, ontem, no programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. Vanessa Francisco Sales, mãe de Ágatha, estava com a filha no colo dentro de uma Kombi, na noite de sexta-feira passada, mas, quando ficaram apenas elas e um rapaz, a pequena passou para o banco ao lado. Foi quando ouviram um estrondo.

"Ela disse 'mãe, mãe, mãe', e eu 'calma, filha, já passou'. E ela 'mãe, mãe, mãe' e o rapaz 'calma, já passou'. A gente se abaixou para sair, ficamos muito assustadas, mas foi um barulho só. Eu não conseguia puxar a Ágatha, porque ela não mais se movimentava, mas até então ela estava 'mãe, mãe, mãe', aí depois eu vi que ela levou um tiro, e aquilo sangrando, eu vi um buraco, eu não estava acreditando no que estava acontecendo na minha vida naquele momento. Eu não estava acreditando, porque a minha filha era perfeita, minha filha desenhava, minha filha era estudiosa, era obediente". Segundo Vanessa, o motorista seguiu com elas para uma UPA, de onde um PM a levou para o Hospital Getúlio Vargas.

"Ele (PM) pegou minha filha, colocou na viatura e saiu correndo. Ela não falava mais, tentei ouvir o coração, mas já não sei se estava batendo ou não, estava fraquinho. Chegando na porta do hospital, ela deu dois suspiros e eu disse 'a mamãe está aqui, fica com a mamãe'. Pegaram minha filha, correram e naquele momento eu não estava acreditando no que acontecia, o que eu mais temia, do que a gente mais se escondia para não acontecer, aconteceu".

Fugir de balas perdidas era rotina para a família e Ágatha se assustava a cada tiro. A família queria mudar para mais perto do asfalto por causa dos confrontos. "A gente se escondia no box do banheiro. Teve um dia que peguei o edredom e o travesseiro, deitamos lá, ela estava muito assustada, sempre tinha medo. Ficamos abraçadas (...) demorou, porque agora está demorando, tem muita bala, demora várias horas, é uma eternidade, em qualquer momento do dia. A gente estava tentando ter uma vida melhor, o mundo está muito mau, e eu falava 'Gilson, aqui em cima está muito perigoso, vamos tentar ver uma casa lá pra baixo'. E justamente lá embaixo é que ocorreu", lamentou.

"Naquele dia não tinha nada, não tinha acontecido nada. Eu trabalho perto. Nem todo mundo que está andando de moto, ou de mochila, ou com uma maquita, uma furadeira, não é assim, chegar e confundir com bandido e atirar", completou Adegilson Félix, pai de Ágatha.

O cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, celebrou missa na Igreja da Penha e fiéis pediram paz Daniel Castelo Branco
Os pais de Ágatha falaram pela primeira vez três dias depois da morte da menina Reprodução / TV Globo