Rio teve presídio parecido com Guantánamo até 1993
Witzel quer uma prisão para isolar criminosos nos moldes da que os EUA mantém em Cuba; aqui, presídio de Ilha Grande recebia de assaltantes de banco a prisioneiros políticos; conheça a história
A paradisíaca Fernando de Noronha, em Pernambuco, recebeu presos de 1833 a 1894. Na Ilha Anchieta, em Ubatuba, no litoral paulista, outro presídio funcionou de 1908 a 1914 e de 1928 a 1952. Já o presídio de Ilha Grande, em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio, funcionou de 1903 a 1993 e foi implodido em 1994.
"A ilha-prisão tem dois princípios: isolamento e dificultar a fuga. Essas ilhas foram condenadas por todos os organismos internacionais. A crítica que se fazia era que o isolamento, a falta de convívio não levava à ressocialização. É algo punitivo, cruel e desumano", explica Gelsom Rozentino, coordenador-geral do Ecomuseu Ilha Grande, vinculado à Uerj, que funciona nas ruínas do presídio.
Para o especialista, a solução passa longe de Guantánamo. "Isso seria até pior que as ilhas. A sociedade tem que se perguntar o que quer que seja feito com o preso. Essa prisão vai trazer benefício social? A prisão vai recuperar o preso?", argumenta.
O tiro que saiu pela culatra
Ilha Grande acabou por apresentar uma ironia histórica, pois foi o ventre da facção criminosa Comando Vermelho. "A Ditadura Militar (1964-1985) enquadrou assaltantes de banco na Lei de Segurança Nacional e os misturou a presos políticos. Eles criaram um coletivo para se proteger, mas os presos pegaram a liderança do grupo à medida que os presos políticos eram libertados. No final dos anos 1970, foi feito um anexo no presídio e os presos fizeram greve de fome contra a transferência. Uma autoridade, então, os classificou como a Falange Vermelha. Assim, o grupo ficou conhecido, o que depois passa a Comando Vermelho", diz Gelsom Rozentino.
Rebelião desativa Anchieta
O presídio de Fernando de Noronha, para onde iam apenas condenados por falsificações financeiras, o maior registro foi de 2.364 detentos, em 1885, segundo o Relatórios dos Ministérios da Guerra (1865-1877) e da Justiça (1877-1889). Já Ilha Grande passou a comportar mil prisioneiros após uma reforma na década de 1940. O de Ilha Anchieta, que também abrigou presos políticos, passou dos 400 detentos. Ele foi desativado após uma sangrenta rebelião, em junho de 1952. Nela, a Associação Pró-Resgate Histórico da Ilha Anchieta e dos Filhos da Ilha estima que centenas tenham morrido. Os números oficiais da época indicam 16 mortos.