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Rainha de Bateria da Mangueira, Evelyn Bastos representa as 'Marias das Dores' em ensaio

'Precisei rezar e orar por essas crianças', disse a beldade

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Evelyn Bastos levou uma mensagem para o ensaio da Mangueira, no teste de luz e som da Sapucaí, na noite de domingo. Ela representou a Maria das Dores, mães de crianças e jovens mortos por bala perdida nas favelas do Rio. Em seu véu havia as assinaturas dessas vítimas como forma de homenagem e a mensagem "O Morro Não tem Vez". À coluna, a Rainha de Bateria da agremiação fala sobre sua fantasia, representatividade e mais. Confira!

Você levou uma mensagem forte para o ensaio ao homenagear essas mães que perderam os filhos. Como foi? 

Eu quis aproveitar essa riqueza que o Leandro está trazendo para a Mangueira com enredos que são ricos em causas sociais. Eu sou Rainha de Bateria. Estou em um lugar que eu tenho um microfone, as pessoas me veem, por isso eu gosto de levar mensagens, levantar uma bandeira e dar voz a tantas pessoas que não são ouvidas. A gente da favela vira estatística. Eu sou ativista, mas nunca tive contato com as mães que perderam os filhos nas comunidades do Rio. Então, quis fazer uma homenagem as Marias das Dores. 

Como você fez para chegar até essas mães e como elas reagiram?

Eu tive a ajuda de um amigo para poder encontrar essas mães. E, surpreendentemente, mesmo falando sobre a dor delas, elas se sentiram gratificadas, honradas com a minha homenagem. Eu pedi a assinatura dessas crianças e jovens, para colocar no véu da minha fantasia. E uma delas me falou que em atos como esses é que Deus dá uma esperança ainda maior para elas. Isso me emocionou muito. 

E sobre a fantasia...

Eu consegui 15 nomes para colocar no véu, que foi branco para simbolizar a paz. Já a mensagem 'O Morro Não tem Vez' feito em fita preta, em sinal de luto. O intuito é que o Estado entenda que nossa manifestação é para dar voz a essas pessoas que não tem voz. A gente vai trazer para os ensaios e para o Carnaval a voz dessas pessoas que não são ouvidas. A gente precisa mostrar como o Estado falha com a gente das comunidades. Não é porque um jovem anda de moto, sem capacete (o que é errado), tem um corte de cabelo diferenciado e tem a pele negra que ele é bandido. Os jovens e crianças não merecem ser alvos. A gente precisa mostrar que os jovens de lá (favela) têm valor.

E como foi usar esse véu, com o nome dos jovens e crianças, com toda essa representatividade? 

Eu fiquei a princípio impactada. Pensei: 'Meu Deus'. Antes de eu vestir a fantasia, eu precisei rezar e orar por essas crianças. Eu me vesti de resistência, protesto. Fiquei muito mexida e me senti com uma responsabilidade muito grande naquele momento. Eu não sei mensurar a dor dessas mães. Mas acredito que deve ser a maior dor do mundo. Então, tentei tocar nessa dor com muito carinho, cuidado. 

No desfile deste ano, você vai representar a Maria das Dores?

Não, ao contrário do que possa parecer, eu não sou a Maria das Dores. Eu vou levar uma mensagem importante também, vou erguer uma outra bandeira com muita força e verdade. Acredito que minha fantasia no dia do desfile vai abraçar um grupo específico, mas vai tocar o coração de todas as pessoas. Essa é minha função como Rainha de Bateria: dar voz a quem não é ouvido.