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De volta à Unidos da Tijuca, Paulo Barros adianta detalhes do desfile e garante: 'Rabugice estámelhorando'

Confira o bate-papo do carnavalesco com o Meia Hora

Paulo Barros volta para a Unidos da Tijuca após cinco anos e vai assinar o enredo 'Onde Moram os Sonhos'
Paulo Barros volta para a Unidos da Tijuca após cinco anos e vai assinar o enredo 'Onde Moram os Sonhos' -

Paulo Barros está de volta à Unidos da Tijuca pela terceira vez, em um período de dez anos. Conhecido como o Mago do Carnaval, o carnavalesco conquistou pela agremiação os títulos de 2010, 2012 e 2014 e é uma das grandes apostas para erguer o troféu de campeão mais uma vez este ano. A Azul e Amarela da Zon a Norte vai levar para a Avenida o enredo Onde Moram os Sonhos, que fala sobre Arquitetura e o Urbanismo. Ao MEIA HORA, Paulo Barros adianta detalhes do desfile e confessa que sua comissão de frente está dando trabalho. Ele ainda se diverte ao ser perguntado o que mudou nele depois de dez anos: "Eu acho que a rabugice está melhorando", revela ele, com humor. 

Brincadeiras à parte, durante o bate-papo, Paulo também deu sua opinião sobre os novos carnavalescos que estão surgindo, conta como está se dividindo entre o Carnaval do Rio e São Paulo, onde é assina o desfile da Gaviões da Fiel, e se isenta da responsabilidade das pessoas esperarem cada vez um desfile mais inovador dele: "Eu não me preocupo, se não eu vou pirar. Vocês que se virem com as preocupações e as expectativas de vocês", afirma. Confira a entrevista completa abaixo!  

Como você vai desenvolver o enredo na Avenida?

No primeiro setor, vamos fazer um pouco de referência aos povos milenares que nos deixaram a herança. Temos vários exemplos como o Partenon, Coliseu, as Pirâmides do Egito. No segundo setor, nós vamos falar um pouco mais da chegada da arquitetura no Brasil, através dos portugueses. A gente fecha esse setor no ápice da modernidade, a partir do Oscar Niemeyer. O terceiro setor a gente pega e faz uma reflexão do que deu errado na arquitetura, porque o arquiteto hoje está preocupado em não só em desenvolver um projeto de designer. Ele está preocupado em desenvolver um projeto em que ele se preocupa com o meio ambiente, com energia, com toda a parte urbanística, autossustentável. O que acontece com as grandes cidades, hoje? A maioria delas se tornaram um caos. Se você vê uma enchente, o que acontece? Elas não foram preparadas para escoar essa água, o lixo. Todas essas mazelas que o homem, ao criar a nossa história da arquitetura, foi esquecida. E hoje o arquiteto tem essa preocupação. E a gente fecha o desfile falando: 'Agora, sim'! Que pra gente ter um Rio de Janeiro nesses moldes, nesses projetos do futuro, a gente precisa se preocupar com mobilidade. A questão da poluição, do urbanismo por si só, do reaproveitamento de material. Porque essa transformação hoje, porque o homem não quer mais jogar o plástico nos rios e está preocupado com o meio ambiente. A gente toca nesses assuntos no último setor e essas alas tocam nos pontos que a gente precisa adquirir para ter uma cidade perfeita. A gente diz que, nesse projeto, a gente transforma a favela em um lugar perfeito para se morar.

A Unidos da Tijuca é a escola que você se sente mais livre criativamente?

Tenho uma experiência aqui de 2004, 2005, 2006. Depois voltei em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Nunca tive problema com liberdade de executar as coisas. Graças a Deus, onde eu passei me deram liberdade, até por conta acho que da própria história. Se você pegar aqui meu trabalho de 2003 para 2004, eu não tinha essa liberdade, porque eu ainda não tinha provado po*** nenhuma ainda. A partir do momento que você prova, então, você olha ali pra fora e diz: 'O que esse cara tá fazendo? Que carro feio'. Essa pegada me traz a confiança das pessoas que pensam: 'isso é feio pra cacete, mas tem alguma coisa por trás disso'. É a trajetória do esquisito. O barracão que eu estou, se você olhar, é esquisito. Mas as pessoas não duvidam de nada por achar que tem alguma coisa por trás. Isso é uma receita de sucesso? Não, às vezes dá certo, às vezes não dá.

Esse ano completa dez anos do primeiro campeonato da Unidos da Tijuca. Tem algum significado especial pra você?

Na verdade, é engraçado que tem tido uma certa coincidência, que não acredito muito. Essa história de destino, eu não acredito. Mas eu gostaria até que fosse. Ganhei Carnaval aqui 2010, 2012 e 2014, queria ganhar 2016, que seria um ano sim um ano não, mas 2016 não veio. Então, passar por 10 anos tem uma reflexão do desfile de 2010. E quem sabe 10 anos depois eu volto para a Tijuca e conquisto mais um título. Isso também não depende só de mim. A escola de samba é um todo, um conjunto.

São 10 anos que praticamente mudou o quesito comissão de frente, como você vê isso hoje?

É um problema que eu arrumei, né? (risos). Aí as pessoas acham que a cada vez eu tenho que arrumar uma comissão de frente mais maluca que a outra. E eu não tenho uma gaveta onde eu tenha um monte de ideia guardada. Até porque a comissão de frente está muito ligada ao enredo. O enredo às vezes te proporciona uma comissão de frente. Procuro fazer essa comissão que tenha essa ligação direta com o enredo e às vezes me traz umas comissões mais surpreendentes que as outras.

O que você pode adiantar da comissão deste ano?

A comissão está ligada ao enredo, é uma comissão de frente que está me dando trabalho, tem técnica. Ela depende de alguns mecanismos, não de inovação, são mecanismos que eu já domino. Mas a estética que eu quero causar com ela, que é uma estética de beleza, para surpreender as pessoas. Agora, isso também não é uma receita que eu possa dizer para você que vá surpreender ou não, mas é uma bela comissão.

Você é bem inovador. Então, as pessoas já esperam mais de você. Isso te traz uma responsabilidade maior?

Não, eu não me preocupo, se não vou pirar. Vocês que se virem com as preocupações e as expectativas de vocês. Existe uma pressão minha comigo mesmo.

Sendo sua terceira passagem na Unidos, o que mudou em você de lá pra cá?

Acho que a rabugice está melhorando. Continuo metódico, detalhista, chato, enjoado, porque isso é uma engrenagem que tem que funcionar e tenho que ficar de olho em tudo. Não adianta. Mas acho que a idade está me trazendo mais calma, mais tranquilidade. Mais novo eu estourava mais fácil.

Você está se dividindo entre o Carnaval do Rio e o de São Paulo. Como está sendo a ponte aérea?

Eu três anos mais velho. A minha grande ajuda para administrar Rio e São Paulo foi o que a modernidade me trouxe: o celular. Eu controlo tudo o dia inteiro. Se eu não tivesse isso, eu piraria. Toda semana eu vou lá. Costumo brincar que um carnavalesco nunca esteve tão presente em são paulo quanto eu.

Como é fazer uma escola de torcida, como a Gaviões?

É uma maluquice num bom sentido. Eles têm um pulinho da torcida que é o 'poropopó' e até o 'poropopó' eu fiz na quadra, me obrigaram a fazer (risos). É uma paixão doida e é estimulante.

O que o Rio pode aprender com São Paulo?

Estou aprendendo muita coisa em São Paulo. Montagem de um carro diferenciado, de maneira diferente, tenho condições de fazer carros lá muito mais facilmente que aqui. Aqui, tenho um maldito viaduto e uma maldita passarela que me limita, mas que às vezes também é bom. Porque também se deixar livre, esses malucos vão chegar com carros de 40, 50 metros, porque acham que tamanho é documento. Quando não é. O tamanho do projeto é de acordo com a necessidade. Não é uma regra a gente executar carro grande.

A escola recomendou o samba. Pra você é mais confortável um samba recomendado?

Não entendo de samba. A minha função no samba é ler o samba e ver se ele se adequa ao enredo. O samba não precisa ser descritivo, tem que ser pontual no enredo, mas não precisa contar aquela história. Minha interferência no samba e meu julgamento, principalmente musical, é zero. Não entendo de música. Sei o que gosto. Pra mim, é o melhor samba da Tijuca que eu já tive. Não sei se ele vai servir para o desfile. Porque a gente tem três sambas: no disco, na quadra e na Avenida. Quantos sambas que foram julgados belíssimos e na Avenida eles afundaram? Espero que não seja o caso.

A Tijuca não está nas Campeãs desde 2016. A escola pediu algo específico para buscar um novo título?

Não posso ser responsabilizado por um título. Acho que todo mundo está colocando nas minhas costas o título, mas podem tirar das minhas costas. 

Essa questão do título não é relativa? Porque seu desfile na Viradouro ficou em segundo lugar ano passado, mas o público recebeu bem. 

Será que o caneco é tão importante assim? Claro que é, sem dúvida nenhuma. Mas o que eu quero mais se eu saio de um desfile com todos os elogios possíveis pelo meu trabalho? Porque tem o meu trabalho e tem a escola. Se a escola não tivesse feito um desfile adequado àquilo, o trabalho não ia surtir efeito nenhum. Então, o caneco é importante? Ele é. Mas te garanto que o resultado final de um trabalho é a gente ver que aquilo é reconhecido e que realmente ele foi emocionante. Eu faço o meu trabalho para levar alegria, crio e desenvolvo meu enredo para as pessoas que estejam lá se divirtam, se surpreendam. A resposta que você tem das pessoas é o caneco.

Há uma renovação de carnavalescos. Como você vê essa nova geração?

Os artistas eu não conheço, só de nome. E acho que precisam surgir. Só não sei se eles pegavam no pesado como eu pegava. Meu aprendizado veio desse momento do não ter o que fazer, tem que terminar carro e eu precisar colocar a mão na massa. Me acostumei e coloco até hoje. Só que hoje eu estou mais velho, então pra subir em um carro... É sério. Aí dói a coluna, as costas. Mas continuo fazendo isso. Em relação aos artistas, não é que minha vez esteja passando. Mas vai passar. O Paulo vai chegar uma hora que ele vai parar, ou talvez não pare. Não sei. O novo tem que aparecer, vir, faz parte do processo da evolução. Só quero estar lá como comentarista para meter o malho neles (risos). Ou elogiar.

 

Paulo Barros volta para a Unidos da Tijuca após cinco anos e vai assinar o enredo 'Onde Moram os Sonhos' Luciano Belford/
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia fotos Luciano Belford
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia
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Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia
Rio de Janeiro 05/02/2019 - O carnavalesco da Unidos da Tjuca Paulo Barros. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia Luciano Belford/Agência O Dia