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Criador da Cufa, Celso Athayde fala sobre sua experiência na comunidade

Celso Athayde é o Colunista Convidado do 'Alô, Comunidade'
Celso Athayde é o Colunista Convidado do 'Alô, Comunidade' -

Não posso dizer que "ando tranquilamente na favela onde nasci", porque não nasci na Favela do Sapo. Mas o Sapo de Camará é a minha favela, a minha área, a minha eterna casa e, sobretudo, a minha vida! Cheguei nessa comunidade da Zona Oeste carioca aos 15 anos. Antes disso, a vida foi muito dura conosco. Digo conosco, pois me refiro a mim, minha mãe e meu irmão.

Nasci no bairro do Cabral, na Baixada Fluminense. Um dia meu pai e minha mãe brigaram. Então, minha mãe saiu de casa comigo e meu irmão, para passarmos anos na rua. Na rua mesmo, sob os viadutos de Marechal Hermes e de Madureira.

De lá, conseguimos uma vaga em um abrigo no Pavilhão de São Cristóvão, hoje a feira de tradições nordestinas. Até que conseguimos um apartamento no Conjunto Habitacional de Senador Camará, que viria a ser chamado de Favela do Sapo de Camará. Especificamente, no bloco 45, e depois, no 38, onde cresci. Ali, então, começava a minha escola, faculdade, pós-graduação, MBA, e tudo mais que se possa ter de aprendizado sobre a vida.

De cara, conheci o Seu Rogério, era o Rogério Lemgruber. Comecei a fazer alguns serviços para o Seu Rogério. Seu Rogério era o cara que mobilizava a comunidade, organizava o nosso bloco de Carnaval, o Dragão de Camará, que existe até hoje.

Mas também era duro. Se dizia comunista, obrigava a todos os moleques, que trabalhavam pra ele, a ler 'O Capital'. Se, em seis meses, não soubéssemos cada linha do livro, ele ameaçava dar um tiro na nossa mão. Nunca soube de nenhum garoto que tenha pago pra ver. Anos depois, descobri que ele nem sabia o que era comunismo. Se dizia assim, porque era fã do João Saldanha.

Além do Seu Rogério, também tenho ótimas lembranças de outros amigos: Marrom, Borel, Portuga, Marinho, Pablo, Maluco, Jairo, Silval, Preá, Gordinha, Meleca, Barata, Canu Alves, Merreca, Figueiroa, Vânia. Uns não tenho mais notícia, outros encontro pra um churrasco com samba e conversa boa, até hoje. Todos marcaram a minha vida e me ensinaram muito.

Já ganhei diversos prêmios, desde empreendedor do ano da 'Revista Istoé' até reconhecimento social na ONU, passando por medalha Pedro Ernesto e palestras nas maiores universidades do mundo. Mas a maior honraria da minha vida é a principal praça da Favela do Sapo de Camará carregar o nome de Praça Celso Athayde. Obrigado, Sapo.

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