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'Minha coragem veio da pobreza'

Ícone de resistência e superação, Elza Soares completa 90 anos, mais relevante do que nunca

Elza Soares
Elza Soares -

Eleita a cantora do milênio e intitulada 'mulher do fim do mundo', Elza Soares é sinônimo de resistência e superação. Atualíssima aos 90 anos — comemorados no último dia 23 de junho—, a diva da música brasileira encarou a fome e a pobreza de frente, com muita dignidade, levantando a poeira e dando a volta por cima. Nascida e criada na comunidade Moça Bonita, hoje Vila Vintém, na Zona Oeste, Elza se mantém incansável. 

"Minha coragem veio da pobreza mesmo, que me fez ficar forte. E cada vez mais acreditar (na vida). Sempre me atualizando, aprendendo. É por aí", ensina a carioca, que, desapegada de datas comemorativas, avisa que seu tempo é o agora. "Enquanto a gente está vivo, segue conquistando e querendo. Estou querendo um mundo melhor, um mundo de amor, onde as pessoas vão chorar menos e vão sorrir mais."

O olhar otimista, muitas vezes, se choca com a triste realidade das comunidades. Para a artista, que cresceu cantarolando por entre as vielas da ocupação comunitária Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, em Padre Miguel, a única coisa que mudou, de lá para cá, foi o nome na localidade. "Acredito que continua a mesma coisa. É preciso vergonha", avalia ela, que, isolada em seu apartamento em Copacabana, na Zona Sul, lamenta o descaso com a pandemia do novo coronavírus. "Acho tudo muito triste, mas tudo passa! E isso vai passar. Acredito no melhor, mas, por enquanto, vamos à luta."

Voz ativa na luta contra o racismo, Elza sentiu na pele as mortes da menina Ágatha Feliz, do Complexo do Alemão, e do jovem João Pedro Matos Pinto, no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Apesar da dor, a estrela se une aos movimentos antirracistas, mas dá um puxão de orelha no ativismo brasileiro. "Aqui é manifestação que dá e passa. Acontece, o povo vai lá, grita e passa. Não tem nem tempo de degustar. Essa tragédia é terrível. Não sei, é muito duro, é difícil."

Como se previsse o futuro, Elza regravou o hino Juízo Final, de Nelson Cavaquinho, numa roupagem visceral. Assim como na canção, a estrela carioca crê na vitória do bem contra o mal. "Ela é atual, embora seja uma música de muito tempo atrás. Viu o quanto a gente evolui, né, meu bem?", debocha da sociedade. "Sou muito otimista. O sol há de brilhar sempre e o amor será eterno. Sem amor, a gente nada consegue", diz.

 

Elza Soares Pedro Loureiro / Divulgação
Elza Soares Marcos Hermes / Divulgação
Elza Soares Pedro Loureiro / Divulgação
Elza Soares Patricia Lino / Divulgação
Elza Soares Reprodução do Instagram

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