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Colunista convidado: Ana Muza, do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo

Jornalista criou o jornal virtual PPG Informativo

Ana Muza Cipriano é jornalista
Ana Muza Cipriano é jornalista -
Eu sou formada em jornalismo e criei o PPG Informativo para que as informações que circulavam na comunidade fossem unificadas. Por ter trabalhado com jornalismo, eu tinha muito mais acesso às informações das coisas da favela do que um vizinho meu. Isso me incomodava muito, e percebi o quanto a comunidade era carente de informação. Comecei a ser vista como a 'Menina do RJ', por ter feito o projeto 'Parceiros do RJ', do RJTV. O projeto acabou, mas as pessoas continuavam mandando demandas para mim. E, aí, em setembro de 2014, criei o PPG Informativo, com o pensamento de ser um jornal da comunidade para a comunidade. Um jornal raiz!
A gente fala muito sobre as coisas que vão acontecer, os benefícios que podem ser levados para a comunidade. Eu costumo dizer que o entorno nos interessa, mas o que acontece dentro da comunidade nos interessa ainda mais. É importante o morador saber quando vai faltar luz, quando vai faltar água, o porquê da falta d'água. Já tive moradores que falavam: "não saio de casa antes de ler o PPG Informativo". Ter um retorno desse é muito importante. Eu sou uma mulher negra à frente de um jornal, só trabalho com mais duas pessoas, mas levo o jornal desde 2014 totalmente no trabalho voluntário. Já tive dedo apontado para a minha cara, já tive clientes que não fecharam acordos por eu ser preta. Então, é muito difícil, mas eu não desisto. O jornal é meu filho caçula! É difícil uma mãe abandonar o filho. Quando existe um propósito, e o meu propósito é deixar o morador informado, não morre assim.
Muitos me perguntam por que continuar se eu não moro mais na comunidade. Mas foi onde eu vivi por 20 anos, é o lugar que eu frequento. Quando me perguntam de onde eu sou, respondo que sou do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo.
Eu sinto falta do meu tempo de criança, onde a gente brincava de salada mista, de pique-esconde pelo morro inteiro. A gente tinha essa liberdade em brincar e nossos pais estavam sentados na porta, com seus vizinhos, bebendo a cerveja. Isso tudo era um divertimento muito grande. Hoje eu tenho 32 anos; nos meus nove, 10, 11 anos, era outra realidade na comunidade. O padeiro passava na porta, tinha o gari comunitário. Eu sinto falta de ter essa rotina, esses simples atos que tornavam aqueles dias muito bons. Você não ter isso na comunidade hoje em dia é estranho. A gente sente que a comunidade está cada vez mais vazia, mais fria, e num momento em que a gente precisava estar dando a mão um para o outro.
E o que eu desejo para a comunidade é que a gente possa ser mais unidos, mais simpáticas com as outras, que as pessoas se preocupem não só com a sua própria porta, mas com o beco, com o seu caminho!

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